domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Velho

O Velho 

Aparentemente tão cansado, continuava, o velho, a recitar o seu breviário… 
Pele rústica, angulosa face, veludosa voz, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Corpo curvo, brutas extremidades, seco, sem recheio, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Pés descalços, pisada grossa, pelas ruas do mundo 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Olhos vagos, sem onde, olhos sem… 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Escutando chistes, mal dizeres, descobrindo-se louco, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Em meio a indiferenças, arrogâncias, exercícios de poderes, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Sem casa, sem bandeiras, sem outras moradas, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Empunhando a flor, aquela flor, a galega flor, 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Continuava a recitar o seu breviário… 
Aquele Velho, talvez de Holanda, com uma flor pelo mundo, 
Continuava velho, 
A recitar o seu bendito breviário… 

Poema: O Velho
Publicado na "Oficina de Poesia" 
Revista da Palavra e da Imagem nº 15, II série semestral, Março 2011
Editora: Palimage - A Imagem e A Palavra
Lisboa, ISSN 1645-3662

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- Um itinerário crítico para o imaginário de Mafalda Veiga:
Decomposição de um cancioneiro através da imaginação da matéria
in Germina - Revista de Literatura e Arte. (link para o artigo)