O Velho
Aparentemente tão cansado, continuava, o velho, a recitar o seu breviário…
Pele rústica, angulosa face, veludosa voz,
Continuava a recitar o seu breviário…
Corpo curvo, brutas extremidades, seco, sem recheio,
Continuava a recitar o seu breviário…
Pés descalços, pisada grossa, pelas ruas do mundo
Continuava a recitar o seu breviário…
Olhos vagos, sem onde, olhos sem…
Continuava a recitar o seu breviário…
Escutando chistes, mal dizeres, descobrindo-se louco,
Continuava a recitar o seu breviário…
Em meio a indiferenças, arrogâncias, exercícios de poderes,
Continuava a recitar o seu breviário…
Sem casa, sem bandeiras, sem outras moradas,
Continuava a recitar o seu breviário…
Empunhando a flor, aquela flor, a galega flor,
Continuava a recitar o seu breviário…
Continuava a recitar o seu breviário…
Aquele Velho, talvez de Holanda, com uma flor pelo mundo,
Continuava velho,
A recitar o seu bendito breviário…
Poema: O Velho
Publicado na "Oficina de Poesia"
Revista da Palavra e da Imagem nº 15, II série semestral, Março 2011
Editora: Palimage - A Imagem e A Palavra
Lisboa, ISSN 1645-3662