Poemas


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NOTA:
esta página traz uma breve coletânea
 de poemas de autoria de João Araújo
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I(I)

…é uma realidade lógica
que existe algo aglutinador de mim…
que existe uma unidade,
mesmo insólita,
que me torna coerente…
do contrário, nem essa disciplinada rotina diária
de me desconhecer,
eu teria…


Poema Nº I(I)
Publicado no livro "de Selene" 
Editora: Andarilho
Lisboa, 2010
ISBN 978-989-96953-0-6

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III (I)

…certo dia, seguia pelo passeio público
quando vi uma criança minúscula,
falante e posta de pé,
em birra com a mãe…
com o indicador em riste,
atacava a genitora, dizendo:
- …eu me crio sozinha!
ao ouvir aquela música,
fui tomado por um misto
de admiração e inveja…
eu queria ter o sangue basto
da pequena rainha reencarnada…
no olhar ancião daquele projeto de império,
eu sentia uma alvorada de raios frescos,
cobrindo o espaço citadino
com o canto impoluto das aves…

Poema Nº III(I)
Publicado no livro "de Selene" 
Editora: Andarilho
Lisboa, 2010
ISBN 978-989-96953-0-6


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V (I)

…a cada instante,
um estafeta sombrio
batia à minha porta
carregando um pacote confuso…
por vezes, não o atendia
ao reconhecê-lo pelo olho mágico;
de outras, abria a porta
e dizia-lhe que havia mudado…
que não morava mais em mim…
ele mirava-me quieto
com olhos vermelhos e fundos
e de um dos cantos da sua boca,
sutilmente, um riso grave
erguia-se, quase imperceptível…
a sua face adensava-se
e tudo o quanto existia ao redor, enegrecia…
com um resíduo do riso ainda sustentado,
ele balbuciava:
- voltarei mais tarde…
ou mais cedo…
enquanto virava-me as costas,
pensava comigo que teria que receber
e abrir aquele pacote,
a qualquer momento,
inexoravelmente…

Poema Nº V(I)
Publicado no livro "de Selene" 
Editora: Andarilho
Lisboa, 2010
ISBN 978-989-96953-0-6
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XIX (I)

…no meu quarto, isolado de todos,
entalhava, meticulosamente, a próxima escultura…
noites desertas,
horas solitárias,
ermos momentos…
a concentração em riste…
a integração completa…
dias, semanas, meses…
o labor findo…
enfim…
findo…
ergo a fronte e, diante de mim,
perco nas vistas, uma galeria fantasmagórica
com objetos cobertos
por alvos lençóis…
uma espécie de tenebroso convento de peças…
ecos estalagmíticos…
névoa, pó, friagem…
puxem-se as cobertas!
revelem-se as estatuetas!
que caiam as cortinas!
o espetáculo vai começar!…
qual daquelas obras era a minha?…
qual das obras era a minha?…
qual obra era a minha?!…


Poema Nº XIX(I)
Publicado no livro "de Selene" 
Editora: Andarilho
Lisboa, 2010
 ISBN 978-989-96953-0-6
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XXIII (I) 

…- respeitável público! 
e os holofotes direcionaram os seus feixes luminosos para os ares… 
era eu no penhasco… 
caminhava numa tênue corda-bamba, 
atravessando todo aquele vale… 
o fio era de uma finura glacial 
e eu não avistava chão algum… 
não podia, 
se olhasse, despencaria… 
para onde, não sei… 
havia de concentrar-me no magro arame… 
era tudo o que dispunha… 
segui frontal em 
movimentos quebradiços, 
quase robóticos, 
recortando passos e 
segurando nas mãos, 
o coração… 
espremia-o de tanto medo 
que já o imaginava oco… 
a caixa torácica oca… 
veias e artérias ocas… 
um corpo completamente oco, 
seguindo 
em 
frente… 

Poema Nº XXIII(I)
Publicado no livro "de Selene" 
Editora: Andarilho
Lisboa, 2010
 ISBN 978-989-96953-0-6



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Décima do Frevo


Décima do Frevo, para além da temática anunciada no título, possui uma estrutura métrica bastante singular. A idéia foi tentar explorar algumas das configurações que as acentuações dos versos decassílados podem assumir. Em geral, tem-se as seguintes configurações:

Pentâmetro Iâmbico (PI) - verso decassílabo com sílabas tônicas nas sílabas poéticas 2, 4, 6, 8, 10
Heróico (H) - verso decassílabo com sílabas tônicas nas sílabas poéticas 6 e 10
Sáfico (S) - verso decassílabo com sílabas tônicas nas sílabas poéticas 4, 8 e 10
Martelo Agalopado (M) - verso decassílabo Heróico com tônicas nas sílabas poéticas 3, 6 e 10
Gaita Galega (GG) - verso decassílabo com tônicas nas sílabas poéticas 4, 7 e 10

Com estas estruturas de metrificações em mente, pretendeu-se compor uma décima constituída por 10 estrofes; cada estrofe constituída por 10 versos; cada verso, por conseguinte, constituído por 10 sílabas poéticas. Entretanto, afim de se explorar todas as configurações métricas acima destacadas, utilizou-se, para cada uma das 10 estrofes, uma dada configuração. Portanto, o poema tem a seguinte estrutura métrica:

Estrofe 01: Pentâmetro Iâmbico
Estrofe 02: Heróico
Estrofe 03: Heróico
Estrofe 04: Sáfico
Estrofe 05: Martelo Agalopado
Estrofe 06: Gaita Galega
Estrofe 07: Martelo Agalopado
Estrofe 08: Gaita Galega
Estrofe 09: Martelo Agalopado
Estrofe 10: Sáfico

A gravação abaixo mostra uma declamação da DÉCIMA DO FREVO na voz do ator Renato Phaelante com músicas incidentais de Luiz Guimarães.





Outros Contatos

Veja Links para matérias de João Araújo:

- Um itinerário crítico para o imaginário de Mafalda Veiga:
Decomposição de um cancioneiro através da imaginação da matéria
in Germina - Revista de Literatura e Arte. (link para o artigo)