terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Carta para Aldemar Paiva

Carta para Aldemar Paiva


No palco da vida, foste um presente alagoano lindo para Pernambuco. Mas Pernambuco, às vezes, se esquece das dádivas que já recebeu. Por isso, cabe-nos a rotina da boa recordação. "Um sorriso, um abraço e uma flor: tudo isso é você na imaginação". E não foste apenas uma flor: foste um Jardim de Flores Raras. Com humor, fizeste poemas. Com poesia, contaste causos. Com jornalismo, escreveste canções. Sem nunca esquecer a tua cidade natal, insististe em nos dizer que Pernambuco é terra boa, o quão rica e bela é a nossa natureza, variada é a nossa cultura e importante é o nosso folclore.

Na Rádio, conduziste gostosas conversas espontâneas, feito um amigo íntimo da gente. Na prosa, foste um mestre. Nos causos, foste tanto arlequim, quanto pierrô. Na voz, foste elegância e firmeza. Para a nossa sorte, tu te fizeste o nosso poeta da saudade. Junto com Nelson Ferreira, José Menezes e outros, escreveste páginas notáveis no imenso livro do lirismo carnavalesco pernambucano. "Serpentina ou confete, carnaval de amor: tudo é você no coração". E sempre com carisma ímpar e sorriso farto, trilhaste brilhante trajetória artística nos festejos de Momo, nos estúdios das Rádios, nos palcos dos Teatros, nas páginas dos livros. Quanta risada gostosa arrancaste de nós, ao narrares tuas estórias engraçadas... Quantas lágrimas minaram dos nossos olhos, ao colocares pitadas de drama nas palavras... E no total domínio e genialidade desse teu ofício criativo, foste um grande espetáculo para o público. Aplausos mil para ti. Não houve sentimento imune às tuas palavras. E até os emblemas mundiais, como, por exemplo, o Papai Noel, rendeu-se e desmantelou-se diante do teu discurso simples e profundo de menino puro das Alagoas.

"Você existe como um anjo de bondade e me acompanha nesse frevo de saudade". Eu daria muito por mais um dedinho de prosa ao teu lado. Só iria escutar. O pouco de oportunidade que tive, valeu demais à pena. Mas agora, diante dessa distância indizível, cabe-nos sorrir com a lembrança da tua volumosa, alegre e sábia imagem, seguindo os preceitos que aprendemos contigo, afinal "quem tem saudade não está sozinho: tem o carinho da recordação. Por isso, quando estou mais isolado, estou bem acompanhado com você no coração".



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Veja Links para matérias de João Araújo:

- Um itinerário crítico para o imaginário de Mafalda Veiga:
Decomposição de um cancioneiro através da imaginação da matéria
in Germina - Revista de Literatura e Arte. (link para o artigo)