sábado, 12 de março de 2016

DEPUTADOS versus PROFESSORES

Por vezes, vale à pena fazermos comparações para termos ideia sobre as escalas que diferenciam as coisas. Um exemplo disso é o caso da comparação salarial entre Deputados e Professores. Os 513 Deputados custam mais de R$ 1 bilhão por ano ao contribuinte (fonte: este site). A pergunta que fica é: e os professores da rede estadual, por exemplo? Segue abaixo uma informação coletada no mês de março de 2016. Analise cada informação:

Deputados

Veja a tabela de benefícios (até fevereiro de 2016) (extraido deste site):
BenefícioMédia mensalPor ano
SalárioR$ 33.763,00R$ 438.919,00
Ajuda de custo (1)R$ 1.406,79R$ 16.881,50
Cotão (2)R$ 39.884,31R$ 478.611,67
Auxílio-moradia (3)R$ 1.608,34R$ 19.300,16
Verba de gabinete para até 25 funcionáriosR$ 92.000R$ 1.104.000,00
Total de um deputadoR$ 168.662,44R$ 2.023.949,28
Total dos 513 deputadosR$ 86.523.831,72R$ 1.038.285.980,64


Carros oficiais. São 11 carros oficiais para uso dos seguintes deputados: o presidente da Câmara; os outros 6 integrantes da Mesa (vice e secretários, mas não os suplentes); o procurador parlamentar; a procuradora da Mulher; o ouvidor da Casa; e o presidente do Conselho de Ética.

OBSERVAÇÕES:

  1. Ajuda de custo. O 14º e o 15º salários foram extintos em 2013, restando apenas a ajuda de custo. O valor remanescente se refere à média anual do valor dessa ajuda de custo, que é paga apenas duas vezes em 4 anos.
  2. Cotão. Valor se refere à média dos 513 deputados, consideradas as diferenças entre estados. A média não computa adicional de R$ 1.353,04 devido a líderes e vice-líderes partidários. O Cotão inclui passagens aéreas, fretamento de aeronaves, alimentação do parlamentar, cota postal e telefônica, combustíveis e lubrificantes, consultorias, divulgação do mandato, aluguel e demais despesas de escritórios políticos, assinatura de publicações e serviços de TV e internet, contratação de serviços de segurança. O telefone dos imóveis funcionais está fora do cotão: é de uso livre, sem franquia. O cotão varia, de estado para estado, de R$ 30,4 mil a R$ 45,2 mil, conforme a relação abaixo (valores em R$):


E os Professores ?


Segundo a Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico a referência anual seria de $ 29.411 (Dólares), ou seja, R$ 106.676,64 (cotação do dólar em Março de 2016). Mas nem sempre isso é o que acontece!

Na verdade, a média dos professores brasileiros da rede de ensino médio fica em torno de $ 10.375, que por si só já fica muito abaixo da metade sugerida pela OCDE (conforme matéria deste LINK ).


Resultado Médio por Ano


R$ 106.676,64  vs.  R$ 2.023.949,28 
(PROFESSOR)             (DEPUTADO)


Diferença = 19 vezes


segunda-feira, 7 de março de 2016

Um Banquete

Um Banquete
(por João Araújo)

O banquete vai ser servido mas, antes, é necessário o seu preparo delicado. Não há festejos, nem solenidades... não há sorrisos... não há nem a regalia das aparências... Onde andará o amphitryon de Molière? Chamem a moça que ficou de vir de vestido longo... e era vermelho... Convites sofisticados em alto-relevo, idades doiradas, batons, pós-de-arroz, jóias e encantos… sumiram todos... Todos não é tudo... As idades pararam... Mas que raio de banquete é este?! Só há um convidado: a preparar tudo, a receber-se, a cumprimentar-se... Corram! Corram! Os criados esqueceram de acender as luzes dos salões! Mas que salões e criados o quê, se nem o singular deu a cara ainda!?... Os holofotes não escusam por esconderem as sombras... A cozinha é fria, a torneira roda, a água cai, a panela enche. Tragam-me da dispensa, um pouco do requinte dos temperos finos e iguarias do Oriente. A governanta conseguiu retornar de Champagne com a lista das compras? Nem a lista, nem as compras... Quem escreveu o quê? E as ovas do esturjão? Onde estão? Nem no chão... Não, parece que ela preferiu ir para Milão... Mas que diacho de banquete é este?! A água é fria, o fogo acende, o metal esquenta. Menina, você é novata: arrume esse uniforme e preste atenção nos mais antigos! Onde está toda a gente? Ela vai ver e rir? Senhor maître, vai querer quantos tipos de canapés? Não importa, o sabor muda de acordo com a esperança... Ponham para gelar as garrafas de vinho das melhores castas. Onde estão todas elas? O salão e as mesas já brilham, de se perderem nas vistas... Está tudo posto como rege a etiqueta, como manda o figurino: colheres, garfos, facas e o cristal das taças sem as marcas dos dedos... Está tudo perdido das vistas... Toda a gente nos seus postos? Para quê? Ela vai ver e rir? E se essa gente tiver medo das suas dores amanhã? Toda a gente? Ela vai ver e rir... Aquele enólogo vai aprovar esse bouquet estupendo e a gente toda vai se perfumar... A gente?! Mas que gente?! A gente vai ver e rir? Se eles tiverem medo da dor, vai alterar o sabor dos canapés... Corram! Avisem a todos sobre as esperanças! Mandem eles virem com as promessas debaixo do braço, além do traje a rigor. Onde está ver e rir? Mas que diabo de banquete é este?! Ajeitem essas gravatas-borboleta. Os portões já estão abertos? Vão abrir urgente, o Tempo pode ser o primeiro a chegar... O fogo insiste, o metal conduz, a água aquece. E se aquela dama estiver com dificuldades com o itinerário? Essa ansiedade, essa expectativa... Isso pode lhe alterar o perfume do vinho... Só há um anfitrião: a sorrir-se, a abraçar-se, a beijar-se... Ao menos os risos forçados ainda se sustentam... Até quando?... Onde ela foi ver e rir? Mordomo Alex! Mordomo Petrius! Tomem tento nos convidados! Poderia ter sido Charles... Madame, oh-ho-ho-hos... Mademoiselle, ih-hi-hi-his... Sintomas de alegrias... Monsieur, com-licenças, eu-peço-desculpas, ah-ha-ha-has, eh-he-he-hes, obrigadinhos pra lá, muitos-prazeres pra cá. Onde estão as vozes, os burburinhos, os cochichos?!... Por falar em prazeres, o que é melhor mesmo: a esperança ou o temor? E se ela pedir para ir ao toilette? Onde ela vai? Onde ela foi? Ver e rir? Um banquete de um homem só... Que danado de banquete é este, meu Deus?! Acho que o bacalhau ficou um pouco salgado... Sonha com um futuro agradável que melhora... A senhorita aceita uma dose de licor? Mas se eu nem participei da ceia ainda... Tudo tem a sua primeira vez... Está bem, vou aceitar só um pouquinho, porque o senhor sabe que eu não estou aqui, não é mesmo?... Só há uma pessoa: a servir-se, a conversar-se, a desconhecer-se... Já o salmão ficou insosso... Nesse caso, cessa a dor que ele vai ficar no ponto. Mas qual delas? Não aprendeu ainda? A maior é claro! Quanto maior a dor estancada, maior o prazer; mas vai logo, pois não dá para aguentar por muito tempo... E o vermelho do vestido? Já chegou? Vermelho é a cor mais rápida! Pelo menos isso: era a promessa que faltava para dar gosto às perdizes... Nos convites indicavam que era para os senhores virem de smokings... Mas e se os Smokings chegarem primeiro? Manda aguardarem no Bar e serve um aperitivo... Quem sabe, com a espera, eles não se transformem no vestido vermelho?... A água recebe, a temperatura aumenta, a matéria agita. Nesse caso, é melhor contabilizar quantas esperanças e quantos temores ainda temos para condimentar o restante dos pratos principais. Não há problemas, os convidados trazem de sobra. Olá, como vai? Caríssimos... Lindinhas... Minhas senhoras... Meus senhores... Seria quase: Respeitável Público! Ladies and Gentlemen! Isso já é exagero... Que banquete medonho é este, meu Deus?! E os irmãos Verri? Confirmaram presença? Não sei se vão tomar champagne... Seja o que for, que tragam as esperanças... Cozinheiras e garçons atentos, ouvi um ruído!... Deve ter sido o amarelo do vestido... Violinos, violas, cellos, sutilezas sonoras: le Orchestre… Os músicos chegaram? E a moça? Está longa e vermelha… Ah, certo, a espera dela... Não, a música... Dela?... O temor vem de black-tie... Isso já sabíamos... Já avisei para tomar cuidado com os singurales da vida... A moça já envelheceu... Ver? Rir? Já não se sabe... Ninguém veio ver e rir... Ninguém vem, venho Eu... Será um banquete de misantropos? Eu só mais Eu... Eu sou Maiseu. Já é alguma coisa. Le misanthrope. Agora sin, de singular… Sim, mas diga quantas eram as esperanças mesmo? Não sei. Poquelin de novo? Nem isso… Só sei que a soma de todas as dores é muito maior do que a dos prazeres. Mas é tanto assim?... Aí você já está querendo saber demais... Pergunta a eles... A matéria ferve, o vapor se espalha, a água borbulha. Eles quem? Os convidados que não existem. Meu Deus! Que banquete!? Droga, me queimei...
MENSÃO HONROSA NO CONCURSO NACIONAL DE CONTOS
MIGUEL SANCHES NETO” EDIÇÃO 2011 - CATEGORIA NACIONAL

sábado, 5 de março de 2016

3 Situações Básicas sobre o Cumprimento da Lei

1) Um cidadão de bem é parado por uma Blitz na estrada. O guarda lhe pede para mostrar o documento do carro e fazer o teste do bafômetro. Se o cidadão se negar a fornecer as informações à autoridade, o que será que ele está escondendo?

2) Um pai de família que caminha pela rua é parado por dois policiais que lhe pedem para mostrar a carteira de identidade. O que custa ao cidadão fornecer esta informação básica aos que fazem o trabalho de rotina da segurança pública?

3) Um outro cidadão (que por acaso é político) é chamado para depor na Polícia Federal. Se este cidadão não deve nada à Lei, porque se nega a colaborar com as investigações que estão em curso?

quinta-feira, 3 de março de 2016

MEMÓRIAS DA IMPRENSA

"Memórias da Imprensa", música que compus e que tive a alegria de ser interpretada pelo amigo Emerson Sarmento. A música recebeu um arranjo musical massa e criativo do amigo Elton Sarmento. Ao fim da gravação, eu declamo um pequeno trecho do meu conto "Ensaio sobre a Senhora H.". Gostaria de agradecer a todos vocês que participaram desta gravação, amigos!


Concepção da Música
"Memórias da Imprensa"

O formato da letra de “Memórias da Imprensa” foi baseado no conceito de texto fragmentado. Ao abrirmos um jornal, deparamo-nos com uma mescla de notícias negativas e banalidades. Dentre as temáticas exploradas, estão a corrupção, o carnaval, a cultura de massa, etc. Entretanto, dessa aparente fragmentação jornalística, persiste o relato recorrente da morte de mais um trabalhador brasileiro, fruto da violência que circunda as nossas cidades. No fundo, esta é a notícia mais importante do Semanário e que luta para se sobressair diante de todas as outras notícias. Uma tensão é gerada e a ideia de fragmentação textual cria um tecido coerente que muitas vezes toca o domínio da ironia para denunciar o descaso e o caos que imperam na sociedade dos tempos atuais.




Memórias da Imprensa
de João Araújo

… e sucumbiu,
Banhado de sangue por todo lugar…
O culpado sumiu
Mas vive na boca do povo a girar
Gerou uma mistura de notas na folha tão branca do semanário:
"Seguia pelos Peixinhos"…
"Olha a onda gigante"… … "vende-se"… "mais um carnaval"…

… o moço partiu
Do jeito que veio sem ninguém notar
E o prelo tingiu
Um festim de palavras pra homenagear:
"Igreja inaugura uma nova e humilde"… "Empresa de Corrupção"… 
"A vítima tinha um filho"…
"Animal leiloado"… "Futebol é a nossa paixão"…

… ninguém nunca viu
Uma mãe num estado sem consolação
A foto saiu 
Preta, branca, vermelha e sem resolução
"Polícia prende"… "Cultura" … "assista à novela"… "é uma emoção"…
"Morre um trabalhador"…
"Desfrute o sabor da cerveja, nesse verão"…


[…] Ando por aí à solta e lépida como nunca debochando do mundo. […] Encontro-me a passear nos carros conversíveis, a beber e a gargalhar em ilhas privadas, nos países, nos continentes. […] Herdei o registro do beijo que Judas Iscariotes eternizou. As minhas origens apontam para desde antes de Caim chegar a Nod, levando consigo o destino nômade dos homens. Detenho o gérmem mais antigo da evolução dos hominídeos, dos gorilas, dos primatas, dos bichos. Sou irmã das tentações e mulher de todos os interesses. Eu sou um vírus, uma essência venenosa, uma infecção moral. Cresço com as ações dos homens. Incrusto-me nas suas mentes. Contudo, nem sempre o meu nome é mencionado com clareza. […] 
(Trecho do conto “Ensaio sobre a Senhora H.” de João Araújo)

Outros Contatos

Veja Links para matérias de João Araújo:

- Um itinerário crítico para o imaginário de Mafalda Veiga:
Decomposição de um cancioneiro através da imaginação da matéria
in Germina - Revista de Literatura e Arte. (link para o artigo)