sexta-feira, 9 de agosto de 2019

De Selene – Preâmbulo

De Selene – Preâmbulo


Com este livro eu pretendi caminhar na sutil corda-bamba entre o que é poesia e o que é prosa. No que diz respeito à poesia a ideia aqui foi criar curtos textos que tivessem vida própria, poética suave e que fossem independentes um do outro. Já no que diz respeito à prosa, almejei realizar uma espécie de romance fragmentado, com uma trama bastante tênue e uma personagem (ou personagens?) quase invisível. Trata-se aqui de um Eu em busca de algo que tanto deseja alcançar. Será a própria poesia ou a capacidade para realizá-la em poema? Talvez a resposta para essas perguntas estejam meticulosamente sugeridas nos Intermédios que compõem as transições entre os capítulos ou nos diálogos constantes que o texto realiza com imagens variadas (fotografias) que também participam da feitura desta obra.

Assim, o primeiro capítulo (da Busca) é a fase de reconhecimento. A personagem tenta se conhecer melhor, pergunta-se sobre o próprio ser, indaga o mundo ao seu redor. No segundo capítulo (do Encontro) parece que a personagem depara-se com aquilo que procurava. Mas tudo é incerto, não parece claro e há uma tensão contínua e recursiva. A personagem busca e encontra-se frequentemente com o seu passado, formado por sua bagagem intelectual, algumas referências artísticas, científicas e literárias, além de tentar por várias vezes e de maneiras distintas montar uma emboscada para capturar e aprisionar aquilo que tanto buscava e parece ter encontrado.

O desfecho da obra se dá no terceiro capítulo (do Drama) quando a perspectiva da delgada trama parece se inverter. Nesta parte do livro, o leitor se depara com um discurso na segunda pessoa do plural e isso indica que a personagem local parece ser outra. Ou seja, há um discurso agora como se fosse do ponto de vista do objeto que estava sendo procurado anteriormente. O objeto se transformou em sujeito e ele realiza algumas argumentações e críticas ao(s) sujeito(s) anterior(es). Vale destacar que neste capítulo final, nenhuma imagem está presente, mas que agora os próprios textos parecem pulsarem e quererem se romper, eles próprios, em imagens e formas, como se texto quisesse ser imagem além do seu conteúdo.

Espero que esta minha breve descrição sobre o meu livro de Selene ajude e motive os caros leitores a seguirem as suas ruelas e becos aventurosos. Como apoio à criação literária e estrutura topológica da obra apoiei-me ainda em alguns números ímpares e teorias da física. Mas aí são assuntos para uma outra conversa...


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Veja Links para matérias de João Araújo:

- Um itinerário crítico para o imaginário de Mafalda Veiga:
Decomposição de um cancioneiro através da imaginação da matéria
in Germina - Revista de Literatura e Arte. (link para o artigo)